
Talvez você, leitor, não saiba que trabalhei como operadora de caixa em um supermercado por um ano, mas isso aconteceu durante todo o ano de 2009. Durante o tempo em que trabalhei lá (tempo que felizmente acabou!) pude ver várias demonstrações de carinho entre velhinhas muito simpáticas. Essas demonstrações me emocionaram tanto (!) que guardei elas na memória e agora quero dividir elas com o mundo, através deste post.
Se você chora fácil, prepare-se para ler umas das mais emocionantes histórias de todos os tempos!
Mas ok, larguemos de enrolação e vamos direto ao ponto, hehe.
Lá eu estava sentada tranquilamente no caixa preferencial (ugh!) passando as compras de uma velhinha de aparência simpática (vamos chamá-la de Velhinha A), que conversava energicamente com a próxima cliente que estava ao seu lado (outra velhinha que vamos chamar de Velhinha B). E então entra no mercado outra velhinha, que passa pelas minhas costas para pegar uma cestinha. Chamemos essa terceira velhinha de Velhinha C. Vendo quem eu estava atendendo, a Velhinha C interrompeu brevemente a conversa das duas velhinhas em frente ao caixa, cumprimentando a Velhinha A alegremente:
Velhinha C: Ooooi, tudo bem? como vai amiga?E entrou para comprar.
Velhinha A: Tudo bem, e com você? Tá indo comprar?
Velhinha C: Tudo! Tem que comprar né, gastar um pouco do dinheiro, haha!
Velhinha A: É verdade, a gente só gasta né?
Velhinha C: Pois é! Mas vou indo, depois a gente conversa!
Velhinha A: Claro, até mais!
Em meio a toda essa atmosfera amigável, eis que a Velhinha B solta de repente:
"Eu quero que essa mulher morra."
A outra, espantada e um tanto sem-graça, pergunta "por que??"
E ela respondeu: "Eu odeio essa mulher. Ela não vale nada. Ficava se jogando pra cima do meu velho!"
E nisso as duas começaram a falar mal da que tinha acabado de sair. A amizade é realmente uma coisa linda, não?
Mas não pára por aí, meses depois meus ouvidos atentos captaram outra história levemente semelhante (fico a imaginar se não foram as mesmas velhinhas, mas realmente não certeza).
E mais uma vez, eu estava em um caixa qualquer e eis que chega uma velhinha. Ela é bem educada e simpática comigo, e me trata com mais atenção do que boa parte dos clientes que aparecem por lá. Enquanto estou passando as compras dela, outra velhinha aparece e a cumprimenta formalmente.
Para evitar confusões com a história anterior, resolvi chamar a primeira velhinha de Cyborg e a segunda velhinha de Jaspion (assim fica mais divertido, hehe).
Jaspion: Olá :)E eis que Cyborg se foi e eu cumprimentei Jaspion.
Cyborg: Oh! Oooi, hehe, tudo bem? :)
Jaspion: Tudo e você? Fazendo compras?
Cyborg: Pois é, a gente tem que comprar né!
Jaspion: É, eu também vim comprar. Vai levar as compras até o carro?
Cyborg: Ah não, eu moro perto, vou levar o carrinho e já trago :)
Jaspion: Mora perto? Que bom, né? :)
Cyborg: Sim, hehe :) Então até mais!
Jaspion: Até mais. :)
Eu: Boa tarde..E ela se foi.
Jaspion: Boa tarde! :) (Jaspion sempre de bom humor hehe)
Eu: (...)
Jaspion: Eu tenho todos os motivos do mundo pra odiar essa mulher, mas não odeio.
Eu: Hã?
Jaspion: Essa mulher que saiu agora, sabe? Eu devia odiar essa mulher, mas hoje a gente é até amiga. :)
Eu: Hm..
Jaspion: Amiga não, né! haha! não quero ela por perto, mas também não odeio mais.
Eu: Sei..
Jaspion: Ela era amante do meu marido. Foi amante dele por muitos anos, aí eu descobri e há um tempo atrás ela veio me pedir perdão... e sabe né, eu aceitei, pra que ficar guardando rancor? (olha Jaspion querendo parecer nobre!)
Eu: É... né
Jaspion: Mas é uma coitada... perdeu tudo o que tinha, agora não tem ninguém que ame ela e tá sozinha, aí eu fico com pena e trato ela bem.. (vocês deviam ver a cara de "pena" dela.. que medo, cara)
Eu: Hm..
Jaspion: Mas as pessoas colhem o que plantaram na vida né? Então eu não tenho pena não, acaba que ela merece mesmo (peraí, você não acabou de dizer que tinha pena?)
Eu: Hm..
Jaspion: Agora que tá velha é que ninguém vai querer ela mesmo.. devia ter ido atrás de um homem pra ela ao invés de ficar de olho no dos outros! (quem ela tá chamando de velha?)
Eu: Hm.. (detalhe que eu já tinha terminado de passar a compra e ela resolveu ficar lá do lado pra continuar a conversar)
Jaspion: Mas... fazer o que, a gente tem que tratar bem né? Coitada.. mas eu não odeio ela agora, então tudo bem, hehe.
Eu: Que bom né..
Jaspion: É.. odiar não é uma coisa boa!
Eu: É.. não é mesmo
Jaspion: Deixa a gente pesada né?
Eu: É.. acho que sim
Jaspion: Bom.. agora eu tenho que ir (FINALMENTE!)
Eu: Ok.
Jaspion: Adorei conversar com você! Você é muito atenciosa, viu? :)
Eu: Ah.. tudo bem..
Jaspion: Tchau, até mais!
Eu: Tchau.
Depois dessa fiquei pensando "caramba, essas velhinhas.. uma história pior que a outra...", mas até que foi engraçado, admito. (mas dá até medo..)
De qualquer maneira, acho que eu devia parar de olhar diretamente para as pessoas quando falam comigo... isso é só um costume e faço isso com todo mundo porque acho importante olhar para as pessoas enquanto falam (e gostaria que sempre fizessem o mesmo comigo)
Mas sabe, é um gesto que parece motivar as pessoas a falarem mais porque acham que estou interessada no que elas estão falando. Que droga, né?